quinta-feira, 15 de maio de 2008

Rodrigo Constantino


"A verdadeira liberdade é a liberdade de Crusoé, ausente de coerção humana, da invasão de agressores. Ao acrescentarmos milhões de pessoas a mais na equação, vários como Sexta-Feira, isso apenas expande absurdamente as oportunidades de trocas vantajosas e de ganhos de produtividade. Mas é crucial lembrar algo tão ignorado atualmente: as trocas devem ser voluntárias!"
(Rodrigo Constantino em A Liberdade de Crusoé)


Agradecemos a Rodrigo Constantino* que em meio a inúmeros compromissos, da mesma forma que nossos outros entrevistados, ainda encontrou tempo e paciência para nos brindar com mais um feixe de luz de modo a impedir o breu total aqui desse Abismo.
Conseguimos mais uma lanterna! Aceitamos muita pilha!


1.Constantino, que tipo de federalismo poderia responder a uma refundação do Estado brasileiro, já que o que o Brasil precisa é de um novo Estado, e talvez um Estado reformado (“reforma do estado”) não esteja à altura das necessidades que se impõem? E como viabilizar a implantação desse tipo de federalismo diante do contexto histórico centrífugo que nos levou ao modelo que aí está, bem ao contrario do movimento centrípeto que ocorreu nos EUA, por exemplo?


R. Constantino-->Acredito que qualquer mudança será sustentável e estrutural somente se contar com uma mudança na mentalidade do povo também. Instituições são fundamentais, uma Constituição mais simples, com direitos negativos, no lugar dessa “Constituição Besteirol” que oferece promessas utópicas, é totalmente necessária. Mas nada disso dura sem mudar as crenças do povo, a nossa cultura. O federalismo, no sentido de descentralizar o poder e adotar o princípio da subsidiariedade, é o caminho. Mas os pilares no campo das idéias devem ser sólidos para sustentar essas reformas.


2. O que ocorreu na CPI de infraestutura do Senado, recentemente, com os senadores de joelhos diante de Dilma Roussef, poderia ser um exemplo da inexistência do “espírito socrático”, o mesmo a que você se refere em artigo homônimo de sua autoria (Novembro de 2007), ou se trata tão somente de fisiologismo com a mentira e o poder?

R. Constantino-->Acho que a classe política está carente de pessoas com mais coragem e senso crítico, que abraça ideais e não cede aos interesses imediatos. Mas, como explicado acima, acredito que isso é um reflexo do povo. No fundo, cada povo tem mesmo o governo que merece, já que governantes sempre são minorias e governados, maioria. Logo, há uma espécie de aval para a imoralidade em Brasília, quando o próprio povo troca os princípios pela esmola estatal, os valores pelo subsídio do governo. Está tudo muito errado! A vulgaridade está dominando a nação. Isso é muito perigoso.


3.No mesmo artigo (O Espírito Socrático) , você se refere à “justiça social” na América Latina como “um conceito divino, que permite qualquer tipo de agressão à propriedade e à verdadeira justiça.” Como poderíamos nos livrar dessa versão orwelliana dos fatos que distorcem nossa realidade e nos fazem cativos de um “monopólio da virtude supostamente presente nos revolucionários” e que “fornece uma carta branca para as mais espantosas atrocidades”, nos moldes da revolução bolchevique onde “os fins justificam os meios”?

R. Constantino-->Somente através de mais conhecimento. A malícia não pode vencer o conhecimento, e infelizmente, tem vencido no país. Os discursos populistas conquistam através das emoções, e se faz necessário combater isso mostrando, com bons argumentos, as mentiras por trás das promessas, a farsa ocultada nas expressões bonitas, a hipocrisia escondida no manto do altruísmo do governo. Justiça deve ser algo isonômico, igualmente válido para todos. Justiça “social” é um termo vago, arbitrário, que acaba matando a verdadeira justiça. Entender isso é fundamental para salvar a liberdade individual.


4. Em seu artigo O PT e as FARC, você leva à reflexão ao questionar as ligações dos terroristas com o PT, Lula, top top Garcia, Fidel e Chávez, e destaco aqui uma que considero o cerne da questão: “Por que o PT fundou, em 1990, o Foro de São Paulo, que conta com a participação de ditadores, como Fidel Castro, e também das FARC?”.
Na sua opinião, o que impede a mídia tupiniquim em geral de expor as vísceras do Foro de São Paulo, ao invés de tratar apenas da superfície dos fatos onde a “grande estrela” da corrupção desenfreada seria apenas um dos um sintomas de uma doença que nos será fatal?


R. Constantino-->Falta coragem, independência, compromisso com os fatos. O cão não morde a mão que o alimenta. E quem alimenta os grandes veículos de mídia, em boa parte, é o próprio governo, com verbas diretas, através de estatais e o carimbo poderoso das concessões. São quase todos reféns do governo. E este governo, em particular, é mais autoritário que o de praxe, mais imoral, mais sedento pode poder. Tivemos as tentativas do Ancinav e CNJ para controle da mídia. O PT possui o DNA do totalitarismo esquerdista. A mídia é acanhada frente a estes riscos.


5.Recentemente o gen. Augusto Heleno se pronunciou a respeito da política indigenista do governo Lula o que resultou em duras críticas do governo(?) e de setores vermelhos da sociedade. Você acha justo que um homem dê seu sangue para preservar a soberania territorial de nosso país, o que é um preceito constitucional, ao mesmo tempo em que se lhe impõe uma “burka” em sua liberdade de expressão?

R. Constantino-->Esse assunto é um pouco mais delicado, pois nas Forças Armadas há uma hierarquia que não pode ser ignorada, e devemos reconhecer que o presidente eleito é o comandante em chefe do Exército e, portanto, o general responde a ele. O que ele disse é verdade, e sabemos disso. Mas não cabe ao subalterno desafiar o chefe publicamente. No entanto, há a questão correta abordada pelo general de que, acima de tudo, o Exército serve ao Estado. Por isso coloquei no início que o tema é delicado. O mais importante, em minha opinião, é filtrar o conteúdo do que foi dito, pois verídico, e focar nessa questão, já que os “índios”, com auxílio de ONGs esquerdistas, estão lutando por privilégios que colocam em risco a soberania nacional.


6.No artigo Um Século de Hipocrisia , você destaca “uma grande confusão no caso de Niemeyer e tantos outros “artistas e intelectuais” uma vez que “O que acaba sendo admirado, quando não idolatrado, é a própria pessoa. E, enquanto figura humana, não há nada admirável num sujeito que defendeu o comunismo a vida inteira”. Você concorda que a hipocrisia não está só no Niemeyer, Chicos Buarques e Veríssimos, mas também numa grande parte da sociedade que os endeusa, acabando por legitimar regimes genocidas como a ditadura cubana?

R. Constantino-->Sem dúvida, já que a idolatria depende necessariamente dos idólatras. Niemeyer é adorado porque existem muitos adoradores dispostos a ignorar seu lado comunista, que defende um tirano genocida sem o menor indício de vergonha. No fundo, muitos admiram ele por causa dessa posição política estúpida, pois não são poucos os que ainda sonham com o socialismo e nostalgicamente olham com reverência para Cuba. O povo acaba na ignorância por causa de uma elite “formadora” de opinião, que tenta passar esta imagem de herói daqueles que, na verdade, defendem o que existe de mais asqueroso no mundo.


7.Em seu artigo O Anticomunista Radical , você expõe os dois pesos e as duas medidas que tem a irracionalidade (ou relativismo) nacional quando questiona o fato de serem aceitos como símbolo (inclusive nas bandeiras de partidos nacionais e obras do Niemeyer, como o monumento a JK em Brasília*) a foice e o martelo, o que é vedado à suástica. Como analisar essa circunstancia , visto tratar-se de regimes que não passam de “farinha do mesmo saco”? Será que isso pode ser interpretado como uma cortina de fumaça utilizada pelos” defensores do comunismo ou socialismo, responsáveis pelo extermínio de milhões de pessoas” que querem passar a imagem da “virtuosos defensores justiça social”?

R. Constantino-->Acredito que a propaganda socialista explica boa parte dessa confusão, desses dois pesos e duas medidas. O comunismo e o nacional-socialismo mataram milhões, foram ideologias coletivistas e totalitárias, conquistaram seus adeptos através das emoções. No entanto, um regime é execrado e o outro ainda é admirado por muitos. Ignorância ou má-fé? Depende do caso, mas existem apenas estas duas opções. O socialismo prega uma utopia que fala à inveja, e isso atrai muitos inocentes úteis. Alain Beçanson concluiu algo interessante sobre isso: “O comunismo é mais perverso que o nazismo porque ele não pede ao homem que atue conscientemente como um criminoso, mas, ao contrário, se serve do espírito de justiça e de bondade que se estendeu por toda a terra para difundir em toda a terra o mal. Cada experiência comunista é recomeçada na inocência.”


8.Como inviabilizar as ações de um governo(?) composto por revolucionários de esquerda que incitam ONGS e “movimentos sociais” a desrespeitar a propriedade privada por meio de invasões (contra as leis vigentes no país) com destaque para o que ora ocorre em Roraima, cujos objetivos espúrios são o da “destruição dos pilares de uma sociedade livre e aberta”, segundo alerta seu artigo Um Conflito Produzido, que “é preciso adotar leis igualmente válidas para todos, independente da cor, raça, sexo, credo ou renda. Com quem podemos contar diante do fato de uma oposição inexistente e ou conivente ?

R. Constantino-->O direito de auto-defesa é inalienável, um direito natural. Se invadissem a casa de qualquer um de nós, iríamos reagir. Por algum motivo, a esquerda acha que deve ser diferente no campo, mesmo em propriedades produtivas. Não deve. Logo, acho que cada proprietário tem o direito de se defender das invasões. Mas é uma luta desigual, pois o próprio governo, que deveria garantir a propriedade privada, financia os invasores e está alinhado com suas demandas. Como mudar? Voltamos ao início da entrevista: somente mudando a mentalidade do povo, que terá que entender que invasão de propriedade legítima é crime, é imoral, e deve ser punido como qualquer outro crime deste tipo. O MST, em outras palavras, será derrotado no campo das idéias.


9.O Brasil obteve um ‘investment grade’ BBB muito abaixo do grau ideal que seria o AAA, e assim mesmo só o obteve por uma das três agencias de classificação de riscos, a Standard & Poor's. De que adianta obter este selinho de “idoneidade” (mesmo precário), uma vez que a mentalidade do governo(?) ainda está atrelada à dialética socialista de um passado muito distante?

R. Constantino-->O selo diz respeito somente à capacidade de pagamento da dívida externa, que é muito pequena. A esquerda está ficando sem fantasmas, sem bodes expiatórios. Terá que enfrentar cara-a-cara, em breve, os verdadeiros culpados pela nossa fragilidade. E estes são os gastos elevados do governo, a dívida interna superior a R$ 1 trilhão, a burocracia asfixiante, o excesso de intervenção do governo na economia etc. O Brasil precisa, urgentemente, de três reformas básicas: tributária, previdenciária e trabalhista. Sem atacar os privilégios de uma classe encastelada no governo o país não dará um salto verdadeiro. Terá apenas vôos de galinha, com uma conjuntura externa favorável como a atual.


10.Barack Hussein Obama, em seu livro “Dreams from my Father”, admite que sempre aproximou-se conscientemente de pessoas de extrema esquerda. Além do mais o ainda pré-candidato do partido democrata defende a tese “politicamente correta” de que o terrorismo nasce da pobreza (exatamente o que ensina o pastor Jeremiah Wright, seu preceptor) o que está de acordo com a mesma afirmação de Lula em setembro de 2001. Será mera coincidência? Gostaríamos de ter sua opinião sobre o assunto.

R. Constantino-->A esquerda adota a falsa crença de que os criminosos são vítimas da “sociedade”, invertendo tudo. Ao matarem a responsabilidade individual, abrem as portas para a barbárie. A cultura do “coitadismo” precisa acabar, dando espaço para a noção de livre-arbítrio, com cada indivíduo respondendo por seus atos.


11- Na sua opinião, em 2010 teremos de qualquer maneira um 3º mandato do Lula, mesmo que via um ‘laranja’ do PSDB?

R. Constantino-->Não concordo que o PSDB seja igual ao PT, ainda que parecido em vários aspectos. A diferença séria encontra-se no autoritarismo. O país pode não melhorar muito se algum candidato do PSDB vencer, pois nenhum deles tem coragem de defender as reformas estruturais necessárias. Mas ele ainda pode regredir muito com uma vitória do PT novamente.


12. Você considera que se não houvesse a contra-revolução de 1964 a ditadura aqui teria sido muito pior porque nos moldes da ditadura do Tirano da Ilha Cárcere de Cuba?

R. Constantino-->Era um risco verdadeiro, sem dúvida. Roberto Campos chegou a escrever: “É sumamente melancólico - porém não irrealista - admitir-se que no albor dos anos 60 este grande país não tinha senão duas miseráveis opções: ‘anos de chumbo’ ou ‘rios de sangue’...”. Acho que ditaduras devem sempre ser condenadas, mas não devemos reescrever a história para transformar guerrilheiros que lutavam pelo regime cubano em heróis da democracia. Nada mais falso!


Constantino, agora um bate bola (sem futebol), rapidinho:

um livro

R. Constantino--> Atlas Shrugged (Quem é John Galt?), Ayn Rand

uma música

R. Constantino--> Stay, David Matheus Band

um filme

R. Constantino--> Brave Heart

um hobby

R. Constantino--> Ler

um sonho de consumo

R. Constantino--> Ferrari

um axioma

R. Constantino--> A existência existe!

um homem

R. Constantino--> Mises

uma mulher

R. Constantino--> Ayn Rand

um campo minado

R. Constantino--> Política

inveja

R. Constantino-->Paixão mais anti-social que existe

valioso (a)

R. Constantino-->Independência

uma ameaça

R. Constantino--> Governo

uma pedra no sapato

R. Constantino--> Coletivismo

uma indignação

R. Constantino--> Hipocrisia

um pensamento, uma reflexão........

R. Constantino-->

"I swear by my life and my love of it that I will never live for the sake of another man, nor ask another man to live for mine."
(Ayn Rand, by John Galt, Atlas Shrugged)




*só pra quem ainda não sabe:

Rodrigo Constantino é economista formado pela PUC-RJ, com MBA de Finanças no IBMEC. Trabalha no mercado financeiro desde 1997, como analista de empresas e posteriormente como gestor de recursos.

Autor dos livros:

"Prisioneiros da Liberdade, Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT", pela editora Soler.

"Egoísmo Racional: O Individualismo de Ayn Rand", pela Documenta Histórica.


Rodrigo Constantino é membro fundador do Instituto Millenium.

Articulista nos sites
Diego Casagrande, Parlata, Ratio pro Libertas , Duplipensar, O Boletim, assim como para os Institutos Millenium, Liberal e Federalista.

Escreve para as revistas Voto-RS e Ponto de Vista .

Acesse o blog de Rodrigo Constantino em http://rodrigoconstantino.blogspot.com